ALPHONSUS DE GUIMARAENS
Seu nome verdadeiro era Afonso Henrique da Costa Guimaraes nasceu no dia 24 de julho de 1870 em Ouro Preto, e faleceu em 15 de agosto de 1921. Diferindo do simbolismo vibrante de Cruz e Souza, a sua poesia expressa uma atitude reflexiva e melancólica sobre praticamente um único tema - a morte. |
Ó CISNES BRANCOS, CISNES BRANCOS... Ó cisnes brancos, cisnes brancos, Porque viestes, se era tão tarde? O sol não beija mais os flancos Da montanha onde morre a tarde. Ó cisnes brancos, dolorida, Minh'alma sente dores novas. Cheguei à terra prometida: É um deserto cheio de covas. Voai para outras risonhas plagas, Cisnes brancos! Sede felizes... Deixai-me só com as minhas chagas, E só com as minhas cicatrizes. Venham as aves agoireiras, De risada que esfrie os ossos... Minh'alma, cheia de caveiras, Está branca de padre-nossos. Queimando a carne como brasas, Venham as tentações daninhas, Que eu lhes porei, bem sob as asas, A alma cheia de ladainhas. Ó cisnes brancos, cisnes brancos, Doce afago de alva plumagem! Minh'alma morre aos solavancos Nesta medonha carruagem... |
ISMÁLIA Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Querida subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... |
COMO SE MOÇO E NÃO BEM VELHO EU FOSSE... Como se moço e não bem velho eu fosse, Uma nova ilusão veio animar-me. Na minh'alma floriu um novo carme, O meu ser para o céu alcandorou-se Ouvi gritos em mim como um alarme. E o meu olhar, outrora suave e doce, Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se Todo em raios, que vinham desolar-me. Vi-me no cimo eterno da montanha, Tentando unir ao peito a luz dos círios Que brilhavam na paz da noite estranha. Acordei do áureo sonho em sobressalto: Do céu tombei ao caos dos meus martírios, Sem saber para que subi tão alto...
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