ESPRONCEDA
José de ESPRONCEDA y Delgado, poeta e romancista espanhol, nasceu em 1808. Uma das primeiras obras que escreveu e que, aliás, ficou por acabar, levaram as suas idéias liberais. Envolvendo-se depois de solto, em novas conspirações fugiu para Portugal, onde residiu por algum tempo, partindo, a seguir, para a Inglaterra e a França. Com a anistia de 1833, volta a seu país, e escreve, por essa ocasião, o romance histórico "D. Sancho de Saldanha". As suas restantes obras constam de uma coleção de poesia líricas (1840) e de 2 poemas. Faleceu em 1842.A CANÇÃO DO PIRATA Com doze canhões por banda, Vento em popa, a todo pano Voa, não corre, no oceano Um veleiro bergantim; Baixel pirata, que chamam Por seus feitos "O Temido", Em todo o mar conhecido De Marselha a Bombaim. Treme a lua sobre as águas; Nos rinzes suspira o vento, E ergue em brado movimento Orlas de prata e de azul. Ei-lo, o capitão pirata, Que vai cantando na popa, Ásia a um bordo, a outro a Europa, E pela proa Estambul. "Voga, meu barco, navega "Sem temor; "Nem forte nau na refrega, "Nem procela, ou calmaria "Do teu rumo te desvia, Ou sujeita o teu valor. "Vinte presas "Tenho feito "Em despeito "Té do inglês: "E abateram "Pendões vários "Cem contrários "A meus pés. "O meu barco é meu tesouro, "A liberdade o meu Deus, "É-me o pego única pátria, "Lei a força, o vento, e os céus! "Além movam feroz guerra "Cegos reis "Por mais um palmo de terra; "Que eu aqui tenho por meu "Quanto avisto em mar e céu, "A quem nada vem dar leis. "Nem bandeiras "Sobranceira "Nem bandeira "De esplendor, "Que não ceda "De repente, Ë me alente "Meu valor. "O meu barco é meu tesouro "A liberdade o meu Deus, "É-me o pego única pátria, "Lei a força, vento, e os céus! "A voz: - "D'avante uma vela! "É de ver "Como tudo se acautela "Panos cheios a escapar; "Que eu sou déspota do mar, "Minha fúria é de temer, "Nós despojos "O colhido "Eu divido "Por igual, "E só guardo "Dessa presa "A beleza "Sem rival. "O meu barco é meu tesouro, "A liberdade o meu Deus, "É-me o pego única pátria, "Lei a força, o vento e os céus. "Condenado estou à morte! "Disso rio. "Se não me abandona a sorte "O mesmo que me condena "Penderá de alguma antena "Talvez no próprio navio. "sucumbindo "Que é a vida? "Já perdida "Não a vi, "Quando o jugo "Vil de escravo "Como um bravo "Sacudi? "O meu barco é meu tesouro, "A liberdade meu Deus "É-me o pego única pátria, "Lei a força, o vento e os céus. "São minha orquestra melhor "Aguilhões Mas o horríssono tremor "Desses cabos sacudidos; "E das vagas os bramidos, "E o rugir dos meus canhões. "Quando o raio "Cruza aos centos "Eu, dos ventos "Ao troar, "Adormeço "Sossegado, "Embalado, "Pelo mar! "O meu barco é meu tesouro, "A liberdade meu Deus "É-me o pego única pátria, "Lei a força, o vento e os céus." (Trad. de José da Silva Mendes Leal) O CORVO Em certo dia, a hora à hora Da meia-noite que apavora, Eu, caindo de sono e exausto de fadiga, Ao pé de muita lauda antiga, De uma velha doutrina, agora morta, Ia pensando, quando ouvi à porta Do meu quarto um soar devagarinho, E disse estas palavras tais: "É alguém que me bate à porta de mansinho; "Há de ser isso e nada mais". Ah! Bem me lembro! Bem me lembro! Era no glacial dezembro: Cada brasa do lar sobre o chão refletia A sua última agonia. Eu, ansioso pelo sol,
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