HEINE
Heinrich HEINE, poeta alemão, de ascendência israelita, nasceu em 1799. Começou sua vida com empregado de um tio, banqueiro em Hamburgo, com a ajuda do qual veio depois a formar-se em direito. Os estudos jurídicos porém não lhe interessam e Heine dedica-se às letras, publicando, em 1822, "Intermezzo". Seguiram-se mais tarde "O livro dos cantos" (1827), "Novas Poesias" (1844), "Romanceiro" (1851), além de outras obras, entre as quais "Impressões de viagem", publicadas em 3 volumes de 1826 a 1830. Foi essa obra, diz-se, que inspirou os poetas da "Jovem Alemanha", escola literária de que foi chefe Gutzkow. Heine vivem muitos anos em Paris onde era muito estimado e onde veio a falecer em 1856.PRÓLOGO Um cavaleiro havia taciturno, Que o rosto magro e macilento tinha. Vagava como quem de algum noturno Sonho levado, trépido caminha, Tão alheio, tão frio, tão soturno, Que a moça em flor e a lépida florinha, Quando passar tropegamente o viam, Às escondidas dele escarneciam. A miúdo buscava a mais sombria Parte da casa, por fugir à gente, Daquele posto os braços estendia Tomado de desejo impaciente. Uma palavra só não proferia. Mas pela meia-noite, de repente, Estranho canto e música escutava, E logo alguém que à porta lhe tocava. Furtivamente então entrava a amada, O vestido de espumas arrastando, Tão vivamente fresca e tão corada Como a rosa que vem desabrochando; Brilha o véu; pela esbelta e delicada Figura as trança soltas vão brincando: Os meigos olhos dela e os dele fitam, E um ao outro de ardor se precipitam. Com a força que o amor somente gera, O peito a cinge, agora afogueado; O descorado as cores recupera, E o retraído acaba namorado, O sonhador desfaz-se da quimera… Ela o excita, com gesto calculado; Na cabeça lhe lança levemente O adamantino véu alvo e reluzente. Ei-lo se vê em sala cristalina De aquático palácio. Com espanto Olha, e de olhar a fábrica divina Quase os olhos lhe cegam. Entretanto, Junto ao úmido seio a bela ondina O aperta tanto, tanto, tanto, tanto… Vão as bodas seguir-se. As notas belas Vêm tirando das cítaras donzelas. As notas vêm tirando, e deleitosas Cantam e cada uma a dança tece Erguendo ao ar as plantas graciosas. Ele, que todo e todo se embevece, Deixa-se ir nessas horas amorosas… Mas o clarão de súbito fenece, E o noivo torna à pálida tristura Da antiga, solitária alcova escura. (Trad. de Machado de Assis) LORELAI Eu não sei qual o sentido Dessa tristeza em que estou; Um conto há tempos ouvido Da mente não me passou: "É fresca a brisa. Anoitece, Vai o Reno manso, a flux, Ao sol-posto resplandece O cimo da rocha em luz. Vê-se bela, reclinada, Lorelai sobre o arrebol, Que alisa a trança dourada Dos seus cabelos de sol. E, ao mover o pente de ouro, Canta a fada uma canção… Oh! Na voz desse tesouro Que melodias estão! Passa o barqueiro nas águas E, embevecido de a ouvir, Não sente o risco das fráguas, Olha p'ro céu a sorrir. Devora-o a vaga inimiga, Naufraga o barco, já vai… Por causa dessa cantiga, Por causa de Lorelai." (Trad. de João Ribeiro) CANÇÃO Era um dia um velho rei, - cabeça branca, alma sem chama - era um dia um velho rei que casou com uma jovem dama. E era um pajem timorato - cabeça loira, alma de chama – que levava em aparato a longa cauda dessa dama. Conheces a velha canção cuja ária de angústia chora? Amaram-se; o vento, então, fê-los morrer na mesma hora. (Trad. de Alphonsus de Guimarães)
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