MALLARMÉ
Stephane MALLARMÉ, nasceu em 1842. Por volta de 1862, partiu para a Inglaterra tonando a França trabalhou como professor de Inglês em diversos colégios da Província. Obteve assim os recursos necessários para poder garantir sua independência literária. Em 1873 foi nomeado professor em Paris. Mais ou menos por essa época reunia em sua casa, todas as terças-feiras, certo números de poetas e escritores, entre os quais: Edouad Dujardin, Rene Ghil, Gustave Kahn, jules Laforgue, Albert Mockel, Charles morice, Henri de réginier, Laurent-Tailhade, Francis Vielé-Griffin, Theodor de Wyzewa, etc. mais tarde outros discípulos se juntaram ao grupo. Depois de aposentado retirou-se para sua casa em Valvins, às margens do Sena, perto de Fontainebleau. São dessa época: "Vers et prose" (1893), os "études"da La revue Blanche", publicados sob o título: "Variations sur un sujet", e, Un coup de dés jamais n'abolira le hasard". Publicou também: "Lápres midi dún faune", em 1876; "Poesies completes", em 1887; "Pages", em 1891; "Divagations", em 1897, etc. Faleceu em 1898.BRISA MARINHA A carne é triste, e eu li todos os livros todos. Fugir! Além! Eu sei que há pássaros já doudos Por se ver entre os céus e a espuma do alto-mar! Nada, nem os jardins refletidos no olhar, Retém meu coração que já no mar se aninha, Nem, ó noites, a luz da lâmpada sozinha Sobre o papel vazio, intangível de brilho, E nem a mulher moça amamentando o filho. Hei de partir! Vapor de mastros oscilantes, Ergue a âncora para regiões extravagantes! Um Tédio desolado, entre anseios intensos, Ainda acredita no supremo adeus dos lenços! E esse mastros, talvez, cheios de maus presságios, São dos que um vento faz vagar sobre os naufrágios Sem ilhas férteis e sem mastros de veleiros Mas, ó minha alma, ouve a canção dos marinheiros! (Trad. de Guilherme de Almeida) APARIÇÃO A lua estava triste. Arcanjos sonhadores Em pranto, o arco nas mãos, no sossego das flores Aéreas, vinham tirar de evanescentes violas Alvos ais resvalando entre o azul das corolas. - Era o dia feliz do teu primeiro beijo. Para me tortura meu sonho, meu desejo Embriagavam-se bem do perfume de queixa Que mesmo sem remorso e sem motivo, deixa, No coração que o colhe, a colheita de um sonho. Eu ia à toa, o olhar no chão velho e tristonho, Quando, trazendo nos cabelos um sol lindo, Na alameda e na tarde apareceste rindo. E eu julguei ver, com seu chapéu de luz, a fada Que nos meus sonhos bons de criança mimada Sempre deixou nevar dentre as mãos mal fechadas Punhados celestiais de estrelas perfumadas. (Trad. de Guilherme de Almeida) POESIA Toda alma que a gente traça lenta, no ar, em resumidos vários anéis de fumaça noutros anéis abolidos atesta qualquer cigarro por pouco que separado fique da cinza e do sarro seu claro beijo inflamado. Assim o coro dos poemas dos lábios voa sutil. A realidade, não temas excluí-la, porque é vil. A exatidão torna impura tua vaga literatura. (Trad. de Luís Martins) FOLHA DE ÁLBUM De repente uns desejos fúteis tivestes, de escutar um pouco as várias músicas inúteis das minhas flautas de som rouco. Esta canção que eu comecei ante a paisagem, frio e grave ficou melhor quando a cessei para olhar vosso olhar suave. Sim, este vão sopro que expulso até meu último limite (meus dedos, hirtos movo a pulso) falha se imita, embora imite, o vosso claro, natural, riso infantil e matinal. (Trad. de Luís Martins) ANGUSTIA Não venho aqui vencer teu corpo, oh! Ser obscuro que os pecados de um povo juntas, nem desejo revolver tristemente teu cabelo impuro sob o incurável tédio oriundo do meu beijo. Quero um sono sem sonhos no teu leito, insano sono que os panos dos remorsos envolveram e que podes gozar, após teu negro engano, tu que o nada conheces mais que os que morreram. O Vício que polui minha nobreza inata pôs em mim como em ti, um selo condenado. Mas enquanto o teu peito pétreo é habitado por um tal coração que nenhum crime mata, eu fujo atormentado, envolto em meu sudário, com pavor de morrer se dormir solitário. (Trad. de Luís Martins)
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